Tokyo! Como o Indivíduo vs o Coletivo

Tokyo! foi um dos filmes que assisti e tema de um dos textos que escrevi para ao site Ambrosia em 2009.
Meu primeiro flerte como crítico de cinema fora das rodinhas de amigos.

A primeira vista pensamos que Tokyo! é apenas uma antologia de curtas passados nesta cidade.
Mas logo vemos que esse denominador comum entre os três filmes é superficial.
A real temática de cada um e do conjunto da obra é bem mais universal.

Tokyo! reune os diretores:
Michel Gondry (Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças)
Leos Carax (Pola x)
Bong Joon-ho (O Hospedeiro).

Trailer do filme Tokyo!

Quais são as três histórias de Tokyo!?

A partir de agora alguns spoilers para quem não assistiu o filme ainda.

……………

– Design de Interiores –

“Interior Design” (Gondry) é o primeiro curta, feito a partir da HQ “Cecil and Jordan in New York”.
Narra a história de um casal de namorados, recém chegado a Tóquio (trocando a cidade da HQ).
Ambos têm dificuldades para se adaptar, principalmente a garota.
Ela passa a sentir-se cada vez mais inútil e isolada, até que se transforma numa cadeira.

Imagem do curta Interior Design pertencente à coletânea Tokyo!

Parece idiota, mas faz sentido ao ver o filme.
Afinal de contas, cada um precisa encontrar uma vocação.

– Merda –

“Merde” (Leos Carax) vem em seguida, com algo bem mais agressivo.
Um sujeito insano, em todos os sentidos, habita os esgotos da cidade.
Volta e meia ele sai pela superfície, tratando a todos com total desprezo, gerando asco, ódio e pavor.
O indivíduo é capturado após uma série de atrocidades.

Seu julgamento é o momento mais surreal.
Afinal de contas, nada mais absurdo que tentar um diálogo racional com alguém que possui uma percepção totalmente distinta das demais pessoas e se intitula Merde (merda em francês).

Imagem do curta Merde pertencente ao filme Tokyo!

O desenrolar da trama, me leva a crer que ele nada mais era que um produto da cidade.
Algo que brotou do solo, da mesma forma que saia dos esgotos.
Ele esfrega na cara dos habitantes, tudo aquilo que eles mais temem e rejeitam.
O reflexo de seus próprios preconceitos e seus “pecados”.
Como o refluxo de uma privada.

– Sacudindo Tóquio –

“Shaking Tokyo” (Bong Joon-ho) fecha o pacote, retratando um problema que existe de fato no Japão.
Pessoas que optam por se isolar dentro de casa, tendo o mínimo de contato com o mundo exterior.

Até onde sei, em geral são jovens que se isolam nos seus quartos.
Mas neste o protagonista é um sujeito que vive sozinho.
Ao longo de 10 anos ele não apenas se habituou a isso, como aprimorou ao extremo.

Vive uma vida regrada e inabalável pelos demais, até que o imprevisto acontece.
Então, sua atenção se volta para fora, mais precisamente para uma garota bem peculiar.

Imagem do curta Shaking Tokyo pertencente ao filme Tokyo!

Hoje em dia é cada vez mais fácil nos isolarmos do mundo.
Mesmo com a ilusão de contato que são os e-mails, redes sociais e tudo mais.
O filme demonstra a importância do contato físico para um ser social como o homem.
Mas alguns precisam ser “sacudidos” para perceberem.

Conclusão:

A questão suscitada no trailer, “Nós moldamos a cidade, ou ela nos molda?” é respondida de três formas distintas, e igualmente ambíguas em Tokyo!.
Porque uma cidade é formada pelo conjunto de seus habitantes e por isso todos a moldamos.
Porém, também somos influenciados pelo coletivo e nos sentimos forçados e nos adaptar, confrontar ou isolar.

O denominador comum de Tokyo!?
Um retrato atual de como o indivíduo reage ao coletivo.

Leave a Comment

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.