Neste livro, acompanhamos o personagem Holden Caulfield por alguns dias de sua vida em que ele vaga descontente pelo mundo, revirando sua mente e buscando por algo que não sabe o que é. Até certo ponto, o enredo tem sintonia com o espírito beatnik, contemporâneo ao livro.
Não é meu tipo de leitura. Talvez fosse mais interessante se o tivesse lido quando novo, lá pros meus 13, 14 anos. Ainda assim é possível que achasse Caulfield um bobão.
Em certo ponto da narrativa, cheguei a pensar que Caulfield pudesse ser visto como um futuro Sal Paradise que era um desocupado/aventureiro por vocação. Mas logo percebi que não. Trata-se de um rapaz mimado que não sabe o que quer da vida, pelo simples fato de nunca se dar ao trabalho de pensar no assunto. Ele se deixa dominar pelos sentimentos imediatos , ou as últimas idéias que cruzaram sua mente. Portanto suas opiniões sobre tudo e todos variam do ódio ao amor em questão de segundos, sem grandes razões, tendendo sempre à insatisfação já que raramente as coisas acontecem exatamente como ele imagina.
A história se arrasta com o personagem, sem muito objetivo, até o capítulo 24, de onde podemos extrair alguma lição, com o personagem do Prof. Antolini. Talvez o único momento no livro em que fica bem evidente a imaturidade de Caulfield e talvez a falta que lhe faz uma figura adulta que dê bons conselhos.
O texto é bem informal, sendo fiel ao linguajar de um jovem da época, e aborda alguns temas que certamente não eram muito discutidos abertamente, por isso é possível imaginar que foi um tanto pioneiro. Mas não compreendo o furor em torno do livro e a adoração em torno dele, principalmente nos EEUU onde é tão usado nas escolas secundárias quanto Machado de Assis aqui.
Muito se deve certamente ao autor J. D. Salinger, que teve uma vida que renderia um livro bem mais interessante que seu best seller. Isto, antes mesmo de tornar-se escritor profissional, tendo escrito para o NY Times, vários contos e três romances, incluindo “The Catcher in the Rye”. Depois disto, desfrutando de enorme sucesso, decidiu sem muita explicação isolar-se da vida pública e nunca mais escreveu nada que se tenha notícia. Também proibiu adaptações de sua obra, ou biografias dele. Mas Hollywood sempre dá um jeitinho. Recomendo o filme Meeting Forrester, com Sean Conery interpretando o autor Forrester que coincidentemente escreveu apenas um livro que fez enorme sucesso, após o qual se isolou do mundo.
Quando uma obra possui interpretações tão mirabolantes eu me sinto impelido a apontar o rei nu.
Eu não simpatizei com Holden Caulfield e certamente seria um dos que ele colocaria na sua gangorra de amor e ódio. Mas também não creio que Salinger quis retratar um simpático desorientado, disso a literatura já estava cheia naquela época. Acho que Salinger quis apenas retratar um adolescente reclamão, com o qual alguns podem se identificar e mostrar justamente o quão confuso e irritante pode ser uma pessoa assim, mesmo escutando a sua versão dos fatos.
Outra polêmica em torno do livro são algumas teorias conspiratórias que tentam relacionar pessoas que surtaram e sairam matando inocentes nas ruas, escolas ou escritórios, com leitores deste livro, afirmando que todos estes atiradores maníacos haviam lido o livro. Por isso meu comentário na postagem anterior. Mas é uma correlação absurda, apesar de ser um livro que numa mente psicótica possa nutrir um ódio ao mundo. Mas aí temos tantas outras coisas que surtem o mesmo efeito…
Finalmente, a edição que li não contribuiu muito para o prazer da leitura. Uma péssima tradução da Editora do Autor, traduzindo ao pé da letra algumas expressões coloquiais e outras barbaridades.
Agora preciso ler uma história onde algo acontece.
Pois é João.
Acho que se tivesse lido quando era mais novo, lá pros meus 13 ou 16 anos, talvez me identificasse mais.
Agora, relendo, percebi que não cheguei a mencionar a metáfora do título, que é explicada no livro. Um apanhador (de baseball) num campo de centeio, à beira de um penhasco, correndo às cegas para tentar pegar a bola traduz bem o estado do personagem, que não faz idéia do que faz e do risco que corre.
Gostei muito da sua opinião sobre o livro, concordo muito em vários pontos, sua defesa é muito explicativa. Porém, o que me fez gostar do garoto perdido é o fato de me identificar com ele.
Não sei se ja aconteceu com você, mas comigo acontece ainda, andar perdido por algum lugar, procurando alguma coisa, muitas vezes, apenas confusão. Aprontar, falar com desconhecidos, beber e me perder no meio de crises existenciais. A um tempo atrás me achava Anormal.
O livro mostra exatamente isso, nem todos tem a chance de crescer em uma família unida, comunicativa, em fim, feliz. E se encontrar em meio a tantas dúvidas tolas (que muitos nem ligam) é uma coisa muito complicada.
Por isso, acho que o livro é tão cultuado, porque ele retrata uma loucura normal.
Alguem disse que é o livro é o “manual dos desajustados”, concordo e recomendo a todos estes seres.