Agora a dica é tanto de uma HQ quanto de um filme.
Eu já havia ouvido falar bem da HQ há uns anos, mas ainda não tinha tido a oportunidade de ler.
Jeffrey Dahmer foi um serial killer brutal que chocou os EUA e muitas pessoas ao redor do mundo quando foi capturado em 1991 e confessou todos os seus crimes, inclusive alguns que a polícia sequer associava a ele.
Mas eu nunca fui muito fã de histórias de serial killers e tenho para mim que é meio perverso refestelar-se nestas narrativas quando me coloco no lugar das famílias e amigos das vítimas que veem os monstros que trouxeram tanto sofrimento serem muitas vezes elevados ao status de celebridades. Um bom exemplo é o do Charles Mason, que nem se enquadra no perfil de serial killer, mas foi certamente um grande sociopata que instigou outros doentes mentais a cometerem crimes hediondos.
Contudo nossa curiosidade macabra muitas vezes acaba levando a melhor e ficamos impressionados com o que as pessoas são capazes de fazer quando se deixam levar pelo que há de pior dentro delas.
Mas voltando ao Dahmer, dentre as pessoas que se chocaram em 1991 estava Derf Backderf, um quadrinista e ilustrador que havia estudado com o Dahmer ao longo de 3 anos de high School em uma pequena cidade. Acredito que na tentativa de ligar os pontos entre aquele garoto que ele conheceu e o psicopata que acabara de ser preso, Derf começou a buscar suas memórias, ler todas as entrevistas que o Dahmer deu às autoridades e à mídia e a pedir relatos dos seus ex-colegas de escola.
Para felicidade de Derf, Dahmer foi um dos poucos serial killers que narrou não apenas seus crimes mas sua vida pregressa de forma bem direta e consistente. Então Derf pode criar uma bela HQ narrando a vida de Jeff Dahmer na adolescência e o convívio que ele teve com esta figura que viria a se tornar um sujeito hediondo e temido.
Na HQ não vemos um psicopata, mas um garoto tímido e com sérios problemas psicológicos e em casa. Sinais que hoje podemos associar com clareza à gênese do assassino, mas que conseguiram passar despercebidos por todos os colegas e professores à época.
Dahmer era só mais um adolescente cheio de conflitos internos que, como em boa parte dos adolescentes, são extravasados de diversas formas, como violência, isolamento, rebeldia, etc.
E por isso mesmo a HQ gera uma identificação com os personagens e eventos narrados. Coisas que todos vivemos direta ou indiretamente quando jovens. Posso lembrar de alguns casos onde ex-colegas demonstraram comportamentos muito parecidos com os do jovem Dahmer e como que já nos anos 90, quando vivi minha adolescência, as escolas e os colegas trataram os casos de forma bem similar àquela escola pública americana dos anos 70.
Sobre o filme, eu considerei uma boa adaptação da HQ, bem fiel ao material de origem, com pequenas mudanças que apesar de tirarem um pouco do tom quase documental da HQ, romanceando algumas cenas, acrescentaram à trama e possibilitaram retratar de forma sutil aspectos da personalidade de Dahmer que na HQ são narrados em textos.
Ah, e foi este clipe do filme, com a excelente música do Talking Heads, que me instigou a consumir ambos. As atuações estão boas e vale à pena assistir antes ou depois de ler a HQ.