The Batman

Seria exagero dizer que The Batman é o melhor filme do personagem já feito?

Não na minha opinião.

Até antes desse filme sair duas outras produções dividiam os fãs.
– Os filmes do Tim Burton com Michael Keaton, onde o visual mais caricato e o tom mais excêntrico dominavam.
Era uma abordagem bem mais sombria para o personagem numa versão cinematográfica, mas ainda aquém de várias versões que o personagem já tinha ganhado nos quadrinhos até então.
A opção foi um meio termo entre o Batman mais obscuro ainda desconhecido do grande público, e o Batman dos anos 60 mais colorido e cômico. Ficou bom para a época, ainda que os produtores não tenham curtido as poucas cores e por isso o Tim Burton ter sido descartado após dois filmes para colocarem o Joel Schumaker que aceitou trazer todo o colorido dos anos 60 e enredos mais cômicos.

Dizem que foi para vender mais Mac Lanche Feliz. Mas eu era bem novo na época e o Batman foi a sensação. Todos os garotos e garotas queriam ter bonecos e tudo mais. Foi uma febre de 89 a 92.
E o que falar da trilha sonora do Danny Elfman? Até hoje icônica e parte do personagem.
A trama é bem simples, mais focada na ação, apesar da roupa que limitava os movimentos do ator e dos dublês.
– Os filmes do Christopher Nolan com Christian Bale traziam uma abordagem mais verossímil do personagem, inclusive no visual bem sóbrio de Gothan City e seus vilões.
E esse visual mais sóbrio me incomoda porque descarta a cidade como um personagem a mais na história e algo que nos ajuda a entender porque ali surgiu um cara fantasiado de morcego que caça os vilões ainda mais insanos.
As tramas são mais complexas e temos um Batman que se questiona mais a respeito do seu papel como vigilante. Mas em vários pontos as tramas mais sofisticadas ficam desnecessariamente confusas e falhas.
As cenas de ação são bem melhores graças aos efeitos mais avançados e um traje mais adequado.

Em ambos tivemos excelentes atuações dos coringas, demais vilões e bons trabalhos dos respectivos Batmans.

OBS.: Michel Keaton continua não me convencendo como Batman e a voz muito forçada que o Bale criou para o Batman me incomodar sempre que assisto aos filmes dele. Talvez aquela voz coubesse numa versão mais exagerada do personagem onde ele abraça totalmente sua loucura.

Ambos os filmes foram projetos bem regulados pelo estúdio já que à época o personagem era tratado com todo o cuidado pela Warner como a galinha dos ovos de ouro.
Principalmente depois do filme de 89.

Claramente os diretores e roteiristas não tinham muita liberdade para criar.

Agora temos The Batman.

*** SPOILERS A PARTIR DAQUI ***

A meu ver esse filme conseguiu pegar a atmosfera gótica do personagem e da cidade, mas sem o exagero dos filmes do Tim Burton e ainda acrescentar todo o peso psicológico do Nolan, sem perder a magia.

As atuações estão ótimas.

O elenco é todo bom, composto de ótimos atores.
A única que eu não conhecia era a Zoë Kravitz que entregou uma excelente Mulher-Gato bem dentro do visual e personalidade da personagem na HQ Batman Ano Um, que foi sem dúvida a grande inspiração para esse filme em que temos um Batman ainda no seu segundo ano de atuação.
Essa Selina Kyle está no nível da interpretada pela Michel Pfeifer no segundo filme do Burton, considerando as diferenças de abordagem. E bem superior à esquecível versão da Anne Hathway que foi claramente atochada pelos produtores no terceiro e chatíssimo filme do Nolan.
No final do filme entendemos por que colocaram o Colin Farrell como Pinguin numa maquiagem que deve concorrer ao Oscar. Ele será um dos principais vilões no segundo filme, ainda que nesse ele fosse apenas um membro da gangue do Falcone.

Finalmente conseguiram criar uma trilha sonora que concorre com a do filme de 89.
Descrita pela minha esposa como uma mistura de marcha fúnebre com a marcha imperial de Star Wars. Tudo a ver com o Batman, guiado pela morte dos pais e o senso rigoroso de justiçamento.
Isso aliado a “Something in the Way” do Nirvana para pontuar os momentos de introspecção do personagem.
Ave Maria casa perfeitamente com o Charada e faz todo o sentido dentro da trama e do conceito dessa versão do personagem.
Isso só para citar as principais músicas, mas a Mulher-Gato e outros personagens têm suas trilhas que encaixam com perfeição nos seus momentos.


Isso, aliado à linda fotografia usando muito bem o contraste para realçar cores e formas num filme quase dessaturado, e que os fanboys do Snyder deveriam assistir com atenção para verem um diretor que sabe usar esses recursos com consciência e propósito, algo que o Snyder não sabe fazer.
Essa beleza visual e sonora emociona durante as cenas de ação e até me fizeram relevar os chutes brabos que tornam o Batman quase invulnerável e extremamente sortudo.

Acho que o único defeito desse filme são esses chutes nas cenas de ação.
E não terem arrancado a máscara do Batman quando ele é capturado pela polícia.

Mas que beleza são as cenas dele enfrentando a gangue na estação, a perseguição com o batmóvel, a fuga dele da delegacia e a luta no corredor escuro iluminada apenas pelos disparos dos bandidos.

Fora isso, a trama não tem furos apesar da sua complexidade.
Pela primeira vez eu vejo o Charada se mostrar um grande vilão e não apenas um idiota que entrega os crimes que cometeu ou vai cometer ao Batman por meio de adivinhações bobas.
Nessa trama ele usa este recurso para manipular o Batman a seu favor, usá-lo como uma peça no seu plano. E este Batman iniciante cai como um pato.
Mal sabia ele que o Charada já sabia de tudo e muito mais sobre os Wayne.
Aliás, muitos já consideram o Charada o herói do filme, e de certa forma ele é. Num mundo real ele seria louvado após assassinar tantos bandidos notoriamente corruptos.

É um filme atual que costura na sua trama a temas pertinentes de forma madura.
Crime e corrupção aliada ao poder político não são estranhos a governo algum, aqui no Brasil estamos bem cientes disso, mas nos EUA a coisa vem se tornando mais descarada nos últimos anos, a ponto de recentemente virem à tona a quantidade absurda de desvios da grana que o governo de lá liberou para auxílio durante a pandemia. Nada diferente do que se deu aqui.
É um filme longo que me manteve interessado e atento o tempo todo, alternando muito bem a trilha de mistérios sendo revelados com belas cenas de ação e um retrato bem fiel do que todos esses personagens são nas HQs.

Tudo isso dito, devemos lembrar que este filme só foi possível devido à bagunça em que a Warner se encontrava até pouco tempo em termos das suas produções relacionadas à DC, onde finalmente o estúdio jogou para o alto a tentativa de criar algo coeso, a exemplo da Marvel, e deu liberdade aos diretores para criarem suas visões. Isso deu muito certo com Shazam, Jocker e The Batman.

O próximo filme já foi anunciado e estou ansioso para assisti-lo.
Material não falta, tendo em vista os ganchos deixados nesse primeiro filme.
E parece que será uma trilogia.
Torço para que os produtores não tentem se meter e melar essa bela obra.

Leave a Comment

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.