Um grupo de amigos entra sem querer em um mundo de fantasia onde assumem os papéis de personagens aventureiros com poderes mágicos com os quais precisam vencer desafios até encontrarem uma forma de voltar para casa.
Parece familiar?
Porque é.
O Kieron Gillen (The Wicked, The Divine, Über, Polyphonic) é fã de RPG e aquela famosa animação dos anos 80 que chamamos de Caverna do Dragão, mas cujo nome original é Dungeons & Dragons, e foi criada justamente como uma espécie de propaganda do sistema de RPG mais famoso do mundo e que estava no seu auge naquela época.
Em Die ele explora essa mesma premissa mas de uma forma mais adulta e dramática. Um dos amigos consegue um conjunto de dados mágicos com o qual decide mestrar uma aventura que é muito parecida com D&D, mas possui outro sistema e outros personagens. O grupo é tragado para esse mundo de fantasia e retornam algum tempo depois sem o mestre do jogo. Eles decidem não falar nada sobre o que de fato ocorreu (e supomos que suas aventuras no mundo fantástico foram bem traumáticas, diferente das vividas em Caverna do Dragão). Então a polícia encerra o caso achando que se tratou apenas de jovens fazendo uma besteira que deu errado e acabou com um deles desaparecido.
Anos se passam e já adultos eles ainda não se recuperaram do trauma. Suas vidas nunca tomaram um rumo correto pois todos sentem que nada faz muito sentido após tudo que viveram naquele outro universo. E também sentem culpa por não terem conseguido salvar o amigo que deixaram para trás.
E assim decidem voltar para buscá-lo.
Não estou dando spoilers aqui, apenas narrando o que é contado no primeiro capítulo.
Quem já jogou RPG por algum tempo, principalmente D&D ou qualquer outro cenário de fantasia medieval vai se identificar imediatamente com essa história que trabalha não apenas os elementos superficiais do jogo mas também as questões psicológicas que podemos identificar dos jogadores projetarem nos personagens características suas que geralmente suprimem no dia a dia, ou extravasarem ainda mais seus melhores e piores atributos.
Como falei o sistema do jogo em que estão inseridos é diferente dos existentes e foi criado pelo próprio autor. Ele busca explicar o sistema em textos após cada capítulo e ao longo da própria HQ vamos entendendo como ele funciona na prática. É um sistema que trabalha muito mais a interpretação e interação entre os jogadores que não interpretam personagens, mas são de fato os personagens da aventura.
Quem é mais atento já notou o belo trabalho das capas onde a imagem dominante é sempre a de um d20 aberto, e como são 20 capítulos, a numeração dos capítulos passeia pelas faces abertas ocupando os respectivos espaços dos números no dado.
Ah, e pra quem ainda não sabe, Die não é “morra”, mas a forma como os dados de RPG são chamados em inglês. Mas é claro que rola uma dupla conotação. E no caso é também o nome do mundo fantástico onde a história se desenrola.
A arte da HQ é a mesma das capas e na minha opinião ele funciona muito melhor nas capas, que são lindas. A desenhista consegue criar belas imagens no interior da HQ, mas peca em alguns momentos com inconsistência do traço e uma narrativa às vezes meio truncada. Mas nada que comprometa a HQ como um todo.
Eu recomendo a leitura para todos, inclusive para quem nunca jogou RPG, pois se trata de uma história de aventura acima de tudo, e com muito drama e até momentos de terror entre os personagens.
Quem já leu, comente aqui o que achou.
Abração!