Isaac Asimov

Acabei de ler o “Robots and Empire” do Isaac Asimov.

Este livro é bem interessante pois é o que de fato une as duas principais linhas narrativas do autor, as novelas robóticas e as galáticas, e mostra como uma originou a outra. Trata-se, na verdade, da conclusão das aventuras de Elijah Baley e  R. Daneel Olivaw ainda que a história se passe bem após a morte do primeiro. Não vou contar mais nada pra não estragar a graça, mas recomendo que leiam todos os livros desta série: “Caves of Steel”, “The Naked Sun”, “Robots of Dawn” e é claro “Robots and Empire”.

Segundo a Wikipedia ainda existem dois contos e um romance que se passam neste mesmo momento histórico da criação de Asimov, mas não creio que sejam fundamentais, até porque o romance parece ser uma variação do “Homem Bicentenário”, outro romance dele.

Para os que nunca leram Asimov, sugiro que comecem pelos livros que considero básicos: “Eu, Robô” e “Fundação” (neste caso a primeira trilogia toda).

“Eu, Robô” nada mais é que uma coletânea de contos sobre robôs. Estão organizados cronologicamente, dentro do universo ficcional, e muitos apresentam personagens em comum, sendo os mais recorrentes os especialistas em robótica: Susan Calvin e a dupla Powel e Donovan.

O interessante dos contos é que os robôs só existem no universo de Asimov graças ao cérebros positrônico, o aparato que permite o raciocínio robótico, mas que é bastante sensível e uma vez ligado não pode ser manipulado diretamente, sob o risco de causar danos irreparáveis. Mas, todos os robôs são programados para seguir três leis básicas:

1ª lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.

2ª lei: Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei.

3ª lei: Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e Segunda Leis.

Baseado nisso, surgiu a robopsicologia que é uma forma como os roboticistas deste universo buscam solucionar os defeitos apresentados por robôs.

Geralmente, os contos sobre robôs do Asimov, tratam de um robô que por qualquer razão entrou em parafuso, ou começou a não funcionar direito e precisa que um roboticista o coloque nos eixos. Quase sempre a causa é fruto de algum conflito envolvendo as três leis que governam o robô, o que faz dos contos excelentes quebra-cabeças de lógica, que os roboticistas precisam desvendar e solucionar, principalmente conversando com o robô defeituoso, para que ele encontre novamente sua linha de raciocínio.

Uma curiosidade (infeliz) é que quando anunciaram o lançamento do filme com o Will Smith, achei que por causa da veia cômica, ele fosse interpretar Powel ou Donovan, que se envolvem em situações meio inusitadas. Mas acabou que o filme foi a porcaria que foi, misturando um dos contos do livro, com o Caves of Steel e colocando ação desenfreada, algo que até agora não li em nada do Asimov. A lógica passou longe.

A saga da Fundação, se passa milhares de anos no futuro, quando a humanidade já conquistou toda a galáxia. Um império governa todos os planetas, ou ao menos tenta, a partir de um planeta capital chamado Trantor.

Trantor é descrito como sendo um planeta totalmente coberto por metal, sendo ele todo  uma imensa cidade, que por sua vez produz apenas burocracia e se presta única e exclusivamente a administrar o império. Lembra Brasília, mas também lembra Coruscant.

Trantor segundo George Lucas
Trantor segundo George Lucas

Mas o grande problema é que a população humana, em toda a sua vastidão, produz conhecimento de forma absurda e muito conhecimento é perdido, por exemplo, não se sabe sequer em qual planeta a humanidade se originou, se é que se originou em apenas um planeta.

Hari Seldon

Então surge o matemático Hari Seldon com sua misteriosa ciência batizada de psicohistória. Seu objetivo é “simples”, montar a Fundação, que deve preservar todo o conhecimento humano, e com isso encurtar de 30.000 para apenas 1.000 anos o declínio da humanidade numa era de barbárie.

A história se estende por séculos, em meio a tramas mirabolantes mas muito bem amarradas, vividas principalmente por discípulos de Seldon que trabalham para manter os planos do matemático, conforme planejado.

Asimov construiu duas ambientações de ficção científica para contar histórias de mistérios. Uma baseada num império galático à beira da ruína, e outra na existência de robôs entre os homens. E depois uniu as duas de forma coesa.

Diferente de muitos autores do gênero, ele não buscava justificar as tecnologias, se baseando em teorias existentes. Apenas criou coisas que julgava serem possíveis num futuro qualquer. O objetivo era apenas criar a ambientação onde o mistério se dá, e com base nos elementos apresentados a solução há de surgir, sempre através de um exercício lógico.

O mais interessante da obra de Asimov é que está cada vez mais atual. Com o surgimento de computadores cada vez mais poderosos, e o avanço visível na robótica. Contudo, não vejo nenhum dos fabricantes de super-computadores ou robôs falar a respeito do uso que será dado a estas sofisticadas máquinas. Isto porque serão usadas principalmente para fins escusos, como guerra ou espionagem industrial.

Já existem robôs criados para combate. Seu uso não é maior por serem absurdamente caros, mas logo se tornarão baratos. Então teremos máquinas combatendo, controladas por super-computadores.

Me parece familiar...

Felizmente não existe ainda o que se pode chamar de inteligência artificial. O que temos são máquinas com enorme quantidade de dados armazenados e que por causa disso são capazes de realizar tarefas pré-determinadas, até surgir algo novo. Então alguém precisa acrescentar mais dados para que a máquina possa seguir sua função. Ou seja, uma máquina ainda não é capaz de aprender por conta própria ou deduzir (gerar conhecimento) baseada em dados já conhecidos.

Então vemos isso.

É nessa hora que um programador com o mínimo de consciência deve imediatamente digitar as três leis do Asimov no cpu.

A lógica de Asimov não é muito absurda. Basta nos basearmos na máxima de Descartes: “Eu penso, logo existo.” Se criarmos máquinas capazes de dedução, estaremos criando uma espécie de vida. Novos seres, que em boa parte serão capazes de controlar parte de nossas vidas. Não vamos querer dar a estes seres a chance de controlar todo o resto. Então precisamos buscar torná-los subservientes a nós, por meio de diretrizes básicas.

Mas pelo andar da carruagem, a humanidade está mais próxima de um futuro Cameroniano que Asimoviano.

No filme Robocop um meio termo é bem exemplificado, quando a Oscorp, fabricante do Robocop, insere como uma das diretrizes dele, a regra de não poder agir contra nenhum membro da diretoria da companhia.

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Mas isso num deu muito certo pra alguns.

Enfim, leia Asimov e sonhem com um futuro utópico, onde os roboticistas têm mais consciência e não são corrompidos por entidades inescrupulosas que não enxergam outra coisa que não seja ganhar e gastar dinheiro como se não houvesse amanhã.

Isaac Asimov
Isaac Asimov

P.S.: Para entenderem mais sobre o que pode ser a origem do cérebro positrônico leia este interessante link.

P.S. 2: Falando sobre isso com meu amigo Adolfo, ele chegou a uma conclusão bem interessante:

“…o problema das 3 leis é que pra implementá-las é necessário um cérebro inteligente o suficiente para entender frases semanticamente (sem saber português, a
frase “Um robô não fará mal a nenhum ser humano” não faz sentido).
Mais até do que isso, o cérebro tem que ter inputs e subsistemas suficientes para reconhecer o mundo ao seu redor e decidir as consequências de suas ações.”

Isto tranquiliza bastante apesar de remover o tom apocalíptico que deu graça à postagem.

3 thoughts on “Isaac Asimov”

  1. Multivac é um dos melhores personagens do Asimov.

    Acho que esse conto em particular eu não cheguei a ler. Não sei. Escrevendo a postagem fiquei com vontade de reler alguns livros.

    Mas mesmo não curtindo impérios galáticos, recomendo os romances de Bailey e Daneel (seu chará). 🙂
    Pertencem ainda ao universo dos robôs, mas a história como um todo narra o início da colonização da galáxia pela humanidade.

  2. Excelente postagem, Figras! Eu gosto das histórias sobre robôs (minha favorita é “All the troubles of the world”), talvez porque eu me interesse por conflitos psicológicos, robóticos ou não, mas não tenho muito saco para impérios galácticos.
    Vou depois enviar para lista uns links interessantes sobre inteligência artificial.

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