Peacemaker (Sobre liberdade e paz)

James Gunn mantém o tom de deboche no seu nível mais alto e usa esse deboche para criticar muita coisa na sociedade sem cair em discursos piegas.

Mas o principal tema da série é debater o que é liberdade e o que é paz.
O Pacificador em sua origem é um personagem bem facistóide que se coloca, tal qual os EUA na segunda metade do século 20, como bússola moral e polícia do mundo que se dá carta branca para agir como bem entender para impor sua noção de paz.
Aliás, uma curiosidade. Na primeira versão de Watchmen, Alan Moore pretendia usar o Pacificador e outros personagens recém adquiridos pela DC na compra de uma editora menor como os protagonistas da obra. Não por acaso, o Pacificador ocupava o lugar do Comediante na obra. O que já diz muito sobre o personagem.
E é como essa figura intransigente e maniqueísta que o personagem é retratado no filme “The Suicide Squad” onde John Cena estreou no papel escrito e dirigido por James Gunn. Ele é claramente um dos vilões do filme já que, diferente dos demais protagonistas que também são vilões, ele age seguindo essa bússola moral deturpada.

Então na série onde o Pacificador se torna protagonista após ter vivido aquela experiência traumática no filme, ele começa a questionar toda a sua forma de agir. Mas é difícil mudar suas atitudes e preconceitos. Ao longo desta primeira temporada vemos ele gradualmente ajustando sua mente à forma como ele pretende se portar dali em diante, pouco a pouco rompendo com as más influências ao seu redor e lidando com os traumas que o levaram a ser quem é.
Apesar do tom cômico predominante a série possui vários momentos tocantes que entram com bom timing e nos permitem ver a evolução do protagonista, que nem por isso deixa de ser um sujeito que começa a amadurecer emocionalmente mas ainda tem muito que percorrer e segue sendo quase que um garoto no corpo de um homem.

Finalmente no último episódio toda a temporada é amarrada na cena em que o líder dos alienígenas vê no Pacificador um aliado na sua busca por tutelar os humanos e conduzi-los, à força se necessário, na melhor forma de cuidar do planeta para evitar que a Terra se torne inabitável tal como o planeta deles havia se tornado.
Aí entendemos porque James Gunn escolheu alienígenas como os vilões. Quem melhor para representar entes superiores em vários sentidos e que se julgam moralmente responsáveis por conduzir os demais a fazerem o que eles julgam correto?
Mas o Pacificador já havia mudado e conseguiu se ver no lugar dos seus antigos alvos. Assim entendeu que, por mais que isso possa fazer sentido e que boas intenções guiem essa ideia de tutelar outros povos, ninguém tem esse direito.
Afinal de contas, existe mudança real se ela for imposta de cima para baixo?
A mudança real é aquela que nasce dos erros e acertos que cometemos e pelos quais aprendemos como indivíduos e sociedade o que de fato funciona e o que não funciona.

Essa é a grande mensagem do Pacificador.
Sim, podemos estar indo rumo ao precipício, mas esse é o custo da liberdade.
A alternativa é vivermos sob a tutela de terceiros que não nos darão escolhas.

Leave a Comment

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.