Pros que já leram esta minha opinião ou algo similar, não se desesperem ou me mandem e-mails e comentários alertando/debochando/reclamando sobre o ocorrido. A Matriz não está sendo alterada. É que eu tenho coisas velhas e bobas que escrevi faz tempo e vez em quando eu colocarei alguma delas aqui.
Sim, eu guardo coisas que escrevi e de que me orgulhei por qualquer razão, algum dia.
Mas para vocês não perderem o click, as coisas estão repaginadas e com menos erros de português.
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Entendam, minha crítica é quanto à série. O primeiro filme é excelente e dispensa continuação.
Mas ai decidiram fazer mais dinh..filmes.
As seqüências, como muitas coisas que vemos pelo mundo afora, tinham grandes chances de serem boas, mas não foram. E eu digo porque.
Alerto para spoilers, no caso de você não ter assistido aos filmes e pretender faze-lo algum dia.
O segundo até que é bom, o problema é que ele foi uma tentativa de expandir o universo do primeiro filme. Entre o 2 e o 3 houve um burburinho enorme entre os fãs de ficção científica, que discutiam as diversas pontas soltas e pistas do segundo filme e no que poderiam resultar. O problema é que como este, se tratava de um atiçador para o terceiro filme, estas pontas soltas que sugeriam algo grandioso eram bem sutis. Eu mesmo só fui compreender algumas depois que li comentários a respeito.
Fiquei pilhado pro terceiro e me frustrei, pois na certa os diretores foram obrigados a recuar de sua ousada tentativa de fazer de Matrix um filme mais cabeça e fizeram do 3, na melhor das hipóteses, um Dragon Ball.
Ou, o que é perfeitamente possível, fizeram o 2 de sacanagem sem nunca pretender grandes coisas. Só pra atiçar os fãs cabeçudos.
Mas as teorias que surgiram eram bem interessantes e vale a pena relembrar aqui.
A principal girava em torno do personagem Merovíngio, que teria sido o equivalente ao Neo de outra versão da Matrix. O surgimento de um Neo (i.e.: Budha matricial) é o sinal de que a Matrix precisa ser resetada, dai o nome Reloaded. Ele também tinha uma amante, a Mônica Belluci, que numa das cenas beija o Neo e lamenta que seu Merovíngio não tenha mais a mesma paixão que ela sente nele. Isto reforça a idéia de que o pomposo francês já foi um rebelde cheio de tesão reprimido como o Neo.
O Merovíngio demonstra ter tanto domínio da Matrix quanto o Neo. No filme é dito que existiram outras 5 versões da Matrix e sobre terem sido distintas da atual, ele comenta o fato de alguns “fantasmas” destas outras versões terem persistido nas seguintes e na atual. Isto explica os vampiros, lobisomens e os irmãos fantasmas que Neo e sua turma enfrentam. A partir disto, possivelmente a versão em que o Merovíngio fora o grande rebelde, a ilusão deve ter sido de um mundo de fantasia medieval ou algo do gênero, onde tais criaturas existiam.
O nome Merovíngio é inspirado em uma dinastia que viveu na França medieval, cujos membros se diziam, e até hoje não se sabe ao certo, herdeiros diretos de Cristo. Isto remete mais uma vez à idéia de Merovíngio = salvador = messias, etc…
Tal como no primeiro filme onde o dèjá vu é explicado como sendo um momento em que a Matrix é alterada, isto diz que as visões de fantasmas e seres inexplicáveis que algumas pessoas têm, nada mais são que reflexos de outras versões da Matrix. Uma analogia com o que ocorre após apagarmos arquivos de um HD comum. O que foi apagado segue gravado no disco só que fora do alcance do sistema, ainda que possam ser recuperados com programas específicos e até mesmo, dependendo do caso, persistem ao alcance, porém ocultos.
No final do filme o Neo se depara com o arquiteto que confirma pra ele a história da necessidade de resetar a Matrix, pois aquela versão já está fadada ao fracasso dada a grande quantidade de gente que fugiu e vive em Zion trabalhando para resgatar exponenciamente mais e mais pessoas das fazendas das máquinas.
O Arquiteto coloca Neo contra a parede e lhe dá a opção de se manter super poderoso e habitar a nova versão da Matrix, com sua amada que estava prestes a morrer.
Mas Neo manda ele se fuder e resolve mostrar que é, de fato, o über rebelde matrix fucker. Opção que o Merovingio não fez.
A cereja no sorvete foi no finzinho, após salvar a mocinha, quando Neo derruba um grupo de máquinas fora da Matrix, como se estivesse dentro dela.
O filme termina e tudo indicava uma continuação eletrizante onde estas deduções seriam confirmadas e várias hipóteses sobre como Neo poderia ao mesmo tempo salvar Zion e a humanidade pipocaram pela internet.
A que mais vingava era que na verdade, o que todos acreditavam ser o mundo real era também parte da Matrix, por isso Neo usou seus poderes ali. E fazia todo o sentido. Máquinas extremamente avançadas não deixariam um furo de segurança grave, sabendo que mais tarde teriam de resetar a porra toda novamente. Era muito idiota.
Então tudo fazia parte da fantasia e na verdade todos estavam ainda nos seus casulos. Era uma fantasia necessária, pois por melhor que possa parecer, em qualquer existência sempre haverá os descontentes, que tentarão se rebelar e derrubar o status quo. Dai a ilusão de Zion era necessária, como um ambiente onde estes rebeldes podiam ter sua válvula de escape. No melhor exemplo “futebol é o ópio do povo”, versão rave no caso.
Isto explica o fato de Neo ser super poderoso “fora da Matrix” e levantava a grande questão filosófica que daria conteúdo ao filme: A eterna rebelião contra os dogmas da sociedade valia a pena e traria de fato uma liberdade? Ou no final das contas toda a rebelião reverte em outra versão da mesma sociedade? Será que a Matrix seria destruída ou Neo teria de se conformar como o Merovíngio a viver eternamente nela, uma vez que nada nunca muda de fato?
O título Revolutions do terceiro filme era bem sugestivo.
Como vemos, o terceiro filme já havia sido concebido, pelos fãs. Um bom filme, bem calcado no enredo dos anteriores. O trabalho dos roteiristas era, baseado nisso tudo, decidir qual seria o desfecho de fato.
O mesmo trabalho que o George “the hut” Lucas teria com as prequels de Star Wars.
O resultado foi semelhante.
Não eram pistas óbvias, principalmente para o grande público, mas eu sou da opinião que ainda assim poderiam ter feito um filme cheio de ação só que com vários níveis de entendimento.
Não seria estranho, pois no primeiro filme várias referências sutis foram usadas, com os disquetes dentro do livro Simulacro e Simulação do Jean Baudrillard (Recomendo a leitura. Prevê muito do que temos hoje, inclusive sugerindo a Matrix. Geralmente não sou fã destes filósofos, mas é uma exceção à regra de bla bla bla enfadonho, além de ser curtinho).
O que acontece é que neste primeiro filme a compreensão não dependia em nada de tais referências. Isto seria difícil de se fazer nos outros dois e como, pelo visto, poucos pescaram, eu me incluindo ao menos na parte da dinastia Merovíngia, os caras acharam melhor nem se dar ao trabalho de explicar.
O resultado foi bem abaixo do esperado.
No fim, e na melhor das hipóteses, Zion tornou-se uma analogia a Salvador. Uma grande rave/micareta onde somente meia dúzia trabalhavam de fato. Por fim, a vizinhança, exausta de aturar a barulheira, invadiu o lugar e pacificou a região.
Ironicamente seguimos todos vivendo uma grande ilusão onde somos conduzidos à compreensão mais rasa de tudo que nos cerca.
Mas o meu ponto não é contra lacunas soltas ou falta de uma explicação a mais, mas a ausência de consistência entre o que foi insinuado no segundo filme e a conclusão que foi dada no terceiro.
Se era para acabar tudo em mera pancadaria e uma alusão já manjada a Jesus Cristo, o salvador, o messias, etc. O primeiro filme já dá conta disso com maestria. Aí sim, deixando um final em aberto onde o espectador pode preencher como bem entender, que a luta continua, que o Neo é um deus ou sei lá o que. Vai depender de cada um.
Mas no segundo filme as referências são bem claras e levam o espectador mais atento a crer que as sequências explorariam outros aspectos daquele universo e não apenas aquela trajetória clássica do herói que foi mostrada no primeiro. No segundo filme eles levantam várias questões e as deixam no ar, mas o terceiro filme simplesmente ignora todas estas questões e foca apenas no que todo mundo já sabia desde o primeiro filme, o Neo é fodão, dá porrada em todo mundo e é tão fodão que atinge um grau de coesão com as máquinas fazendo com que elas poupem a humanidade.
Ou seja, mais dois filmes que fazem várias voltas retóricas e exageradamente longos para chegar à mesma conclusão do primeiro, que o Neo tem a capacidade de realmente domar a Matrix, mas desta vez, sem deixar nada para o espectador refletir. Sem lacunas soltas, apenas as que foram abandonadas e acabaram não acrescentando em nada para a conclusão da história da forma como ela se deu.
Cara, n concordo com sua opinião. Eu acho uma covardia comparar as sequências com o primeiro filme! Filmes complexos sempre deixaram lacunas soltas (propositalmente) para o telespectador preenche-las. Eu considero a trilogia uma obra prima.
Cristo Reloaded foi jogo duro. 🙂
Gostei muito de suas opiniões e tb acho que os filmes 1 e 2 foram inferiores ao 1º. Esperei muito por eles, pois tb sou fâ deste tipo de ficção e fiquei mto decepcionada. Mas para mim o pior de tudo foi ter que aturar a história de Cristo Reloaded… ninguém merece…